A triagem nutricional é uma etapa importante na prática clínica do nutricionista e ajuda a determinar quais pacientes demandam maior atenção e recursos
Todos os pacientes devem passar pela
triagem nutricional, preferencialmente nas primeiras 24 horas após a admissão,
caso não seja possível, a recomendação é que seja feita antes das primeiras
72 horas.
A triagem pode resultar em duas
vias: sem risco nutricional, esse paciente deve ser reavaliado em 7
ou 10 dias. Pacientes com risco nutricional devem passar pela avaliação
nutricional completa, realização do planejamento dietético e acompanhamento
nutricional.
Risco
nutricional
O risco nutricional está associado ao risco aumentado de morbimortalidade em decorrência do estado nutricional, complicações hospitalares, maior tempo de internação, baixa funcionalidade física e pior recuperação. Os modelos de triagem variam entre si, no entanto, a maioria das ferramentas de triagem avaliam o índice de massa corporal, perda de peso, ingestão dietética e aspectos físicos. De acordo com o risco nutricional, os recursos humanos e tecnológicos são alocados para o paciente com maior risco, sendo classificados em primário, secundário e terciário.
Tabela 1. Níveis de assistência nutricional
Nível | Descrição |
---|---|
Primário | Sem complicações que impliquem em uso de dietoterapia, são pacientes sem risco nutricional |
Secundário | Pacientes com alguma doença de base ou problema, mas que não exija dietoterapia específica, porém apresenta risco nutricional, ou ao contrário |
Terciário | Paciente apresenta doença que exige cuidado dietoterápico específico e risco nutricional de maneira concomitante |
ASG
- Avaliação subjetiva global
A ASG é uma ferramenta utilizada
para diversos tipos de pacientes hospitalizados, incluindo os pacientes
cirúrgicos. Entre os itens avaliados estão a perda de peso, ingestão
alimentar, sintomas gastrointestinais, exame físico e alterações funcionais.
A
ASG PODE SER DIVIDIDA EM 6 ITENS:
1.
Avalia alterações no peso corporal,
onde o indicador é a % de perda de peso em determinado tempo, podendo receber a
classificação de aumento, sem alteração e diminuição do peso.
2.
Alteração da ingestão alimentar, que
indica a presença ou não de alterações por determinado tempo. As alterações
podem ser alteração na consistência da dieta e inanição.
3.
Sintomas gastrointestinais, como
náuseas, vômitos, diarreia, anorexia.
4.
Capacidade funcional, neste item o
avaliador verifica se o paciente apresenta alguma disfunção e por quanto tempo,
por exemplo se ele deambula ou é acamado.
5.
Doenças e relação com necessidades
nutricionais, nesse item o avaliador define o diagnostico primário da
doença e determina se ela apresenta relação com estresse metabólico baixo,
moderado ou elevado.
6.
Exame físico, por fim, o avaliador
deve verificar a presença de alterações físicas no paciente, como perda de
gordura subcutânea, edema no tornozelo, perda muscular, ascite, classificando a
gravidade de 0 para normal a 3+ para grave.
Ao final da aplicação, o avaliador
classifica o paciente como (a) bem nutrido; (b) suspeita de
desnutrição; e (c) gravemente desnutrido. Ou seja, é um método que diagnóstica
a desnutrição.
ASG-PPP
- Avaliação subjetiva global produzida pelo paciente
É uma
ferramenta que se baseia na ASG para avaliar pacientes oncológicos. A
ASG-PPP inclui todos os aspectos presentes na ASG original, no entanto,
apresenta modificações como a inclusão de marcadores de estresse metabólico e
componentes físicos associados à doença. Essa ferramenta pode ser dividida
em etapas:
1. Composta por quatro sessões
que são preenchidas pelo paciente ou pelo avaliador, onde são verificados os
seguintes itens:
Cada
item apresenta uma pontuação, pode-se assinalar mais de uma opção, no entanto,
considera-se apenas o valor da pontuação mais alta, que ao final serão somados.
As próximas etapas são verificadas pelo avaliador
2. Perda de peso é um dos itens avaliados na segunda etapa, onde há uma classificação de 0 a 4 pontos para a perda de peso, sendo a perda ≥10 em 1 mês e ≥20% em 6 meses a pontuação máxima.
3. Doenças e suas relações com necessidades nutricionais, aqui o item pede a presença de doenças preexistentes e se estadiamento, como câncer, infecções, trauma, idade maior de 65 anos etc.
4. Demanda metabólica, nesse item se avalia o estresse do paciente segundo dados da temperatura corporal e uso de corticosteroides, indo de 0 a 3 pontos para cada um dos 3 itens avaliados: febre, duração da febre e dose de corticosteroides.
5. Exame físico na ASG-PPP
avalia a perda de gordura e massa muscular em regiões especificas do corpo,
indo de sem déficit até déficit grave, além da presença de edema e hidratação
geral.
Avaliação
dos resultados. Por fim, é realizado a avaliação dos resultados de acordo os dados
obtidos na avaliação, considerando peso, ingestão de nutrientes, sintomas de
impacto nutricional, função geral e exame físico. No final o paciente pode ser
classificado em categorias: (a) nutrido; (b) risco de desnutrição ou
desnutrição moderada; e (c) gravemente desnutrido. Portanto, a ASGP-PPP é uma
ferramenta que identifica a presença de desnutrição.
MAN - Mini avaliação nutricional
É o método de triagem aplicado em
idosos (>60 anos) no ambiente hospitalar. Ela avalia o questionário
alimentar e aspectos mentais e físicos, direcionadas aos idosos.
Além disso, a MAN pode indicar desnutrição.
A MAN consiste em itens específicos na triagem que verificam:
- Redução da ingestão alimentar;
- Perda de peso nos últimos 3 meses;
- Mobilidade;
- Estresse psicológico ou doença aguda nos últimos 3 meses;
- Problemas neuropsicológicos;
- Classificação do IMC indo de <19 até >23.
A pontuação máxima é de 15 pontos, onde:
- 12 a 14 pontos – estado nutricional normal
- 8 a 11 pontos – risco nutricional
- 0 a 7 pontos - desnutrição
A partir do item G até o R a MAN utiliza outros parâmetros que incluem medidas antropométricas como perímetro braquial e panturrilha, no total esses segunda parte da MAN tem uma pontuação máxima de 30 pontos, em que de 24 a 30 a classificação do estado nutricional é normal; 17 a 23,5 como risco nutricional e menos de 17 como desnutrição.
NRS-2002 - Triagem de risco nutricional
O proposito da NRS-2002 é detectar a
presença de risco nutricional em adultos, de 19 a 60 anos. A NRS é composta por
questões referentes ao IMC, perda de peso não intencional em três meses,
apetite, habilidade de ingestão e absorção de nutrientes, além do fator de estresse
por doença.
A NRS é dividida em duas etapas principais, a primeira consiste na presença de pelo menos um dos seguintes fatores:
- IMC <20,5kg;
- Perda de peso nos últimos 3 meses;
- Ingestão reduzida na última semana;
- Paciente gravemente doente;
- Pacientes com ≥70 anos recebem pontuação adicional ao final da soma.
Se o paciente apresentar sim em pelo
menos 1 dos quatro itens, segue-se para a segunda etapa, onde são avaliados o estado
nutricional e a gravidade da doença. No final da avaliação o
paciente é classificado em com risco ou sem risco nutricional. Não determina
desnutrição.
- Estado nutricional – a pontuação vai de 0 a 3, onde 0 o estado nutricional é normal e 3 o paciente apresenta perda de peso >5% em 1 mês ou >15% em três meses; IMC <18,5, condição geral prejudicada, ingestão alimentar reduzida a entre 0 e 25% das necessidades nutricionais.
- Gravidade da doença – a gravidade da doença verifica o aumento das necessidades nutricional, onde o escore vai de 0, em que não há necessidade aumentada até o escore 3, em que o estresse metabólico é elevado, ou seja, o paciente apresenta situações como trauma, terapia intensiva, transplante (APACHE >10).
MUST - Triagem
Universal de Desnutrição
Utilizados no ambiente hospitalar,
ambulatorial em adultos. A MUST considera três itens
fundamentais: IMC, perda de peso involuntário nos últimos 3 e 6 meses e o
impacto da doença na ingestão alimentar.
Podendo ser classificado em 0 para
baixo risco nutricional, 1 para médio risco nutricional e 2 pontos para alto
risco nutricional. Não determina desnutrição.
É uma ferramenta ampla e
superestima o alto risco nutricional, e pode subestimar o médio e risco
nutricional.
MST - Triagem
de risco de desnutrição
Aplicado para população adulta, no
entanto, é uma ferramenta pouco abrangente, não inclui dados antropométricos
nem bioquímicos.
Considera perguntas como perda de
peso, quantidade peso perdida, redução da ingestão alimentar. O escore de 0 a
1, o paciente não apresenta risco, escore 2 ou mais, o paciente está em risco. Não
determina desnutrição.
STRONG Kids
- Triagem de risco nutricional pediátrico
É a ferramenta validade para ser
utilizada no público pediátrico, de 0 a 18 anos, que considera o estado
nutricional atual, perda de peso involuntária, ausência de ganho de peso,
alterações gastrointestinais e ingestão alimentar.
É uma ferramenta de quatro itens que
podem ser rapidamente obtidos após a admissão hospitalar e fornece a informação
de presença de risco nutricional ou não.
ITENS
AVALIADOS
Doença de alto
risco (2 pontos) – o primeiro ponto é a presença de doença de alto risco,
como DRC, hepatites, pancreatites, SIC, trauma, doença metabólica, muscular,
cirurgia de grande porte, câncer, AIDS, fibrose cística, doença celíaca,
displasia pulmonar, anorexia nervosa e outras.
Avaliação
clínica subjetiva (1 ponto) – verifica se o paciente apresente estado
nutricional prejudicado com alterações de massa muscular e gordura nas regiões
como face, clavículas, braços, peitoral etc.
Ingestão
alimentar e perdas (1 ponto) – verifica a presença de diarreia, redução da
ingestão, incapacidade de ingestão por causa de dor e terapia nutricional
pré-existente.
Perda de peso ou
baixo ganho (1 ponto) – verifica se o paciente perdeu peso nas últimas
semanas ou meses ou se o ganho de peso não está adequado.
Ao final da avaliação, são somados
os pontos, onde cada possui uma pontuação totalizando 5 pontos no total,
a classificação se dá por:
- 4 a 5 pontos – alto risco nutricional, onde deve haver intervenção e acompanhamento;
- 3 a 1 pontos – risco médico, onde deve haver intervenção com prescrição até o diagnóstico nutricional; e
- 0 ponto – baixo risco nutricional, onde não é necessário a intervenção nutricional. A reavaliação deve ocorrer em 7 a 10 dias.
Triagem | População | Itens avaliados | Diagnóstico de desnutrição |
---|---|---|---|
ASG | Adultos enfermos | Perda de peso; Ingestão alimentar; Sintomas gastrointestinais; Exame físico; Alteração funcional. | Sim |
ASG-PPP | Pacientes oncológicos | Perda de peso; Doenças e suas relações com necessidades nutricionais; Demanda metabólica; Exame físico. | Sim |
MAN | Idosos | Questionário alimentar; Aspectos físicos; Aspectos mentais. | Sim |
NRS | Adultos enfermos | IMC; Perda de peso; Apetite; Ingestão alimentar; Absorção de nutrientes; Fator de estresse por doença. | Não |
MUST | Adultos | IMC; Perda de peso; Impacto da doença na ingestão alimentar. | Não |
MST | Adultos | Perdas de peso; Quantidade de peso perdido; Redução da ingestão. | Não |
STRONG | Pediátrico | Estado nutricional atual; Perda de peso; Ausência do ganho de peso; Alterações gastrintestinais; Ingestão alimentar. | Não |