É o mineral mais abundante no
nosso organismo, sendo considerado um macromineral. É um mineral
caracterizado por ter a função estrutural, principalmente em ossos e
dentes, mas também atua na transmissão de sinais e como cofator enzimático
Biodisponibilidade
A absorção do cálcio inicia-se pela
liberação na sua forma solúvel e ionizada, como os outros minerais, a absorção
do cálcio também é baixa e depende dos estoques de cálcio do organismo.
O cálcio é absorvido no intestino delgado, sendo a maior parte no íleo.
Essa absorção pode ocorrer por duas vias, por difusão ativa, onde há gasto
de energia, por meio de enzimas e transportadores que são ativadas mediadas
pela vitamina D ou ainda por transporte passivo, onde a internalização
do cálcio pelos enterócitos é feita sem o gasto energético. A difusão passiva
ocorre principalmente na região do íleo.
Alguns fatores podem afetar a
absorção de cálcio, como a fase da vida, por exemplo o aumento da absorção
de cálcio durante a gestação e lactação, já com o avanço da idade a
absorção do cálcio é reduzida devido a resistência intestinal à ação da
vitamina D e a redução do ácido clorídrico, que atua na absorção do cálcio. Fármacos
que atuam na inibição do ácido clorídrico também podem afetar a absorção do cálcio.
Por fim, doenças genéticas também podem afetar a absorção de cálcio, no entanto
são raras.
A excreção do cálcio ocorre
principalmente pela urina, fezes e suor. No rim, mais de 98% do cálcio é
reabsorvido durante a etapa de filtração. A quantidade perdida varia de acordo
com vários fatores, como idade, raça, sexo, função renal e prática de atividade
física.
Regulação do cálcio no organismo
A homeostase do cálcio é mantida por
diversos processos envolvendo um sistema de feedback negativo onde a vitamina
D, calcitonina, Paratormônio (PTH) e fosfato possuem um papel fundamental.
Se os níveis séricos de cálcio estiverem
elevados ocorre a inibição do PTH e liberação de calcitonina,
que inibe atividade dos osteoclastos, células que degradação o tecido ósseo,
e assim reduzindo a liberação de cálcio na circulação e aumentando a deposição
de cálcio nos ossos. Quando a quantidade de cálcio se encontra reduzida
ocorre a liberação do PTH que por sua vez ativa mecanismos que vão
desencadear na maior absorção de cálcio no intestino mediado pela
vitamina D, maior reabsorção de cálcio nos rins e ativa os osteoclastos,
células responsáveis por degradação do tecido ósseo.
Devido esse controle rigoroso das
concentrações de cálcio na circulação, a deficiência de cálcio dificilmente
é identificada em níveis séricos, geralmente as alterações séricas de
cálcio estão associadas a disfunção em um dos hormônios reguladores da sua homeostase
e não em problemas com a ingestão alimentar, então alterações no Ca sérico podem
indicar alterações na função da paratireoide. Métodos como o DEXA podem
ser utilizada para verificar a saúde óssea, o que representa de fato as
reservas de cálcio ou ainda pelo balanço de cálcio avaliado pela diferença
entre ingestão menos a excreção para determinar as perdas. A ingestão adequada
de cálcio pode ser verificada por inquéritos alimentares.
A deposição e degradação óssea
ocorre durante toda a vida e depende desse mecanismo permanente de homeostase,
ela ocorre apenas nos ossos. A principais células que participam dessa
regulação do cálcio ósseo são os osteoclastos, que degradam o osso, e os
osteoblastos, que são responsáveis pela deposição do cálcio no tecido.
Funções biológicas
O cálcio é famoso pela sua função estrutural,
principalmente em ossos e dentes, na formação de hidroxiapatita,
componente dos ossos. No entanto esse mineral é fundamental para a transmissão
de sinais em diversos tecidos do nosso organismo, como sistema
musculoesquelético, onde participa da contração muscular e na comunicação
entre os neurônios.
Como cofator, o cálcio atua na
cascata de coagulação, além de outras enzimas importantes, como a piruvato
desidrogenase, importante no metabolismo de carboidratos e outras enzimas
do ciclo de Krebs.
Deficiência de cálcio
Como podemos notar, o cálcio é fundamental
no nosso organismo, e a sua deficiência pode levar a diversas consequências
negativas, especialmente sobre a saúde óssea. Em crianças, a hipocalcemia
está associada à problemas no desenvolvimento estrutural dos ossos, podendo
resultar em raquitismo, um distúrbio caracterizado pelo amolecimento e enfraquecimento
dos ossos, além de afetar o desenvolvimento dos dentes. Nos ossos dos
adultos, a falta desse mineral pode gerar osteoporose. A deficiência de
cálcio também pode gerar complicações associadas a suas funções de transmissor
de sinais, resultando em alterações neuromuscular, como formigamento periférico,
maior risco de depressão, convulsões e demência. Devido a sua importância
na cascata de coagulação, a ausência do cálcio pode resultar em hemorragias.
Por fim, distúrbios na musculatura também estão presentes na hipocalcemia, seja
no musculo esquelético com a presença de cãibras, espasmos e fraqueza
muscular ou com arritmias no músculo cardíaco.
Recomendação diária de cálcio
Grupo | RDA de Cálcio |
---|---|
1 a 3 anos | 500 mg |
4 a 8 anos | 800 mg |
9 a 18 anos | 1300 mg |
19 a 50 anos | 1000 mg |
51 anos ou mais | 1200 mg |
Gestantes e Lactantes | 1000 mg |
Fontes alimentares
Leite e derivado, ovos, brócolis,
couve, repolho chinês, folha de nabo.
Fator antinutricionais
Alguns compostos podem competir ou
inibir a absorção de certos nutrientes, no caso do cálcio é o ácido oxálico,
que é encontrado no espinafre e ruibarbo, além do feijão seco e batata
doce em pequenas quantidades. O ácido fítico ou fitato também
atuam como inibição da absorção do cálcio, está presente principalmente
no farelo de trigo e feijões secos.
Referências
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