
Nova ferramenta quer padronizar o diagnóstico de desnutrição em todo o planeta
O diagnóstico de desnutrição vem sendo discutidos nos últimos anos em um cenário onde há uma variada gama de métodos e protocolos para o seu diagnóstico na prática clínica e na pesquisa, fazendo com cada país ou região do globo possua a sua própria maneira de rastrear e diagnosticá-la. Com objetivo de superar essa divergência, um grupo de trabalho formado por quatro importantes instituições de vários continentes se uniu para a criação de uma ferramenta que possibilitasse a padronização do diagnóstico de desnutrição em todo o mundo.
Clinicamente, a desnutrição é uma condição anormal no estado nutricional que envolve o déficit de macronutrientes de etiologia variada sendo a inanição por falta de alimento e doenças que afetam o trato gastrointestinal e o metabolismo as principais causas. Anteriormente a desnutrição era relacionada principalmente a perda de peso extremos devido à limitação de ingestão energética e proteica, mas recentemente outras anormalidades relacionadas a macro e micronutrientes entraram no escopo da desnutrição, como obesidade, caquexia e sarcopenia. Quadros em que, apesar de não haver uma redução do peso corporal total, são condições em que um ou mais nutriente está em desordem no organismo.
A desnutrição também pode ser resultado de processos patológicos, como o câncer, que de maneira geral eleva o gasto energético desses pacientes além das condições enfrentadas durante o tratamento, podendo ser ainda mais agravada dependendo da região e estadiamento do tumor. Estudo tem demostrado que além da redução da ingestão alimentar, a inflamação tem um papel fundamental no desenvolvimento da desnutrição, podendo gerar desencadear desde alterações comportamentais a funções fisiológicas.
Uma das principais vias inflamatórias que impactam o estado nutricional são os sinalizadores inflamatórios, as citocinas, que a partir de interações com sistema de fome-saciedade geram alterações que desencadeiam a anorexia, consequentemente, a redução da ingestão alimentar. No âmbito clínico, essa é uma das principais causas da redução da ingestão alimentar de pacientes internados. Além da via de supressão do apetite, a resposta inflamatória requer energia e proteína, elevando os níveis catabólico para a sua efetiva atuação, somados, esses dois fatores são um cenário propicio para um quadro de desnutrição, o qual está associado a diversos desfechos adversos, como maior risco de complicações, infecções, morbidade, mortalidade e maiores gastos com internação.
De maneira generalizada, a desnutrição é diagnosticada a partir do Indice de Massa Corporal (IMC) que considera o peso e altura do individuo, enquanto na pratica clinica e nas pesquisas, a desnutrição pode ser indentificada por vários outros fatores e ferramentas dinstintas, como a Avaliação Subjetiva Global (ASG), Malnutrition Universal Screening Tool (MUST) e outras ferramentas e protocolos de uso interno das instituições hospitalares e de pesquisa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a desnutrição como um conjunto de doenças de caráter de déficit proteico-energético, preconizando o uso do IMC como patrão de diagnóstico de desnutrição, o que o grupo, responsável pelo desenvolvimento da GLIM, considera “inconsistente com a abordagens utilizadas na prática clínica e na pesquisa atualmente”. Para superar essas inconsistências e amparar as necessidades dos profissionais de saúde, foi realizado um encontro, o Global Leadership Initiative on Malnutrition, em 2016 que contou com a participação com várias instituições de nutrição clínica com alcance global, como a ASPEN, ESPEN, FELANPE e PENSA, com objetivo de discutir a padronização da prática clínica no diagnóstico da desnutrição.
Em 2018 o grupo propôs um algoritmo para o diagnóstico de desnutrição, a GLIM. A ferramenta consiste em um modelo de duas etapas. Na primeira etapa o grupo propôs o uso de pelo menos uma ferramenta de triagem validada para determinar a presença de risco nutricional no paciente, como a Como a NRS-2002, ASG, MAN, ASPEN, MUST e outras.
Após a constatação do risco nutricional pela triagem, a desnutrição seria identificada pela presença de alguns fatores que foram divididos em dois grandes grupos: (1) fatores etiológicos, os quais consideram a redução da ingestão ou absorção alimentar e a gravidade da doença/nível inflamatório; e (2) fatores fenótipos, que incluem a perda de peso não intencional, redução do IMC de acordo com a faixa etária e a redução da massa muscular. A confirmação de 1 critério etiológico mais 1 fenótipo caracterizam a presença de desnutrição. Posteriormente os algoritmos ainda traz a possibilidade de estadiar a gravidade da sarcopenia de acordo com a classificação de parâmetros antropométricos que incluem a porcentagem de perda de peso, IMC e déficit de massa muscular.
Referências
1. Cederholm, T. et al. GLIM criteria for the diagnosis of malnutrition - A consensus report from the global clinical nutrition community. Clin Nutr. 2019 Feb;38(1):1-9. doi: 10.1016/j.clnu.2018.08.002. Epub 2018 Sep 3.